Piedade

“- Não perdoei Deus por deixar Maggie adoecer – ele disse. – Então, porque ele se importaria em me perdoar?" (pg 178)

Me interessei por Piedade pelo título, pela capa, e obviamente pela autora, a maravilhosa Jodi Picoult. Assim que o vi na livraria, quis lê-lo sem nem mesmo saber do que se tratava.

Cameron McDonald é delegado de uma pequena cidade chamada Wheelock, habitada por várias gerações da sua família. Casado com a doce Allie, dona de uma floricultura, os dois levam uma vida tranqüila, até que um dia seu primo Jamie McDonald aparece na delegacia, com a esposa morta no carro, e confessa tê-la matado.
Em seu depoimento, Jamie conta que Maggie sofria de câncer, estava em fase terminal e lhe pediu que a matasse pois já não suportava mais viver daquela maneira. E ele o fez. Ele a matou por amor.

“- Jamie – ela disse -, não vou mais fazer isto.
‘Fazer o que?’, ele pensou. ‘Dobrar as roupas? Conversar com ele?’ Ele a puxou pelas mãos até que ela se sentou ao lado dele na cama. – Não me importo tanto com a morte – ela disse. – O que está me matando é não saber o que vai acontecer depois.
Ela lhe pediu, bem ali, que a matasse. Ele respondeu que não faria aquilo de jeito nenhum. Maggie disse que ele estava sendo egoísta. Jamie respondeu que ela também estava sendo egoísta. Mas ela rebateu dizendo que tinha todo o direito de ser”
(pg.233)

Jamie sempre foi um marido extremamente dedicado e apaixonado. Mas quando viu sua esposa sendo consumida pela doença, resolveu atender seu pedido, sem pensar no que poderia acontecer com sua própria vida daquele momento em diante.

“- Levou menos de 5 minutos – Jamie disse, remexendo os pés na neve. – Usei um travesseiro. Ela me arranhou no meio da ação, mas isso tinha sido algo que discutiríamos, e não era para eu parar. Por isso, apenas me inclinei para a frente e sussurrei pra ela... Sabe, coisas que eu sei que ela queria pensar, e então ela parou de se mexer totalmente. (...)
- Jamie – Graham disse, virando-se de frente para seu cliente. – Sei que você faria tudo de novo. Mas faria algo diferente?
Ele observou Jamie se controlar para não chorar: - Gostaria de dizer que desta vez eu também me mataria – Jamie respondeu em voz baixa - , mas nunca tive essa coragem.”
(pg.234)

As opiniões da cidade se dividem em relação ao ato cometido por Jamie.
Cameron tem um dilema nas mãos: proteger seu primo ou exercer seu papel de delegado e colocá-lo atrás das grades?
Allie apóia Jamie, o que gera um certo desconforto no marido.
No meio dessa confusão, surge Mia, uma mulher bonita e misteriosa que aparece na loja de Allie no mesmo dia da chegada de Jamie, e se oferece para trabalhar, mostrando sua larga experiência com flores e arranjos. Cameron imediatamente se sente atraído por ela, e dão início a um caso amoroso.
A medida que o tempo passa e enquanto Jamie aguarda seu julgamento em liberdade, Cameron passa questionar o significado de amor verdadeiro. Alguém que mata a própria esposa, como um ato de amor para tirar-lhe o sofrimento, deve ser julgado como um assassino qualquer e condenado? Cameron, que sempre agiu corretamente, pode questionar o amor e os atos do primo, já que ele próprio está traindo e desrespeitando sua esposa?

Em alguns momentos, a história retorna ao passado, nos ajudando a compreender algumas situações do presente.
Um livro instigante e comovente que, mesmo depois de terminado, nos faz pensar nos personagens e em nós mesmos, se estivéssemos vivendo tais situações. Até onde o amor nos leva e o que somos capazes de fazer por ele?

“- Mas você a matou – ela retrucou
Jamie balançou a cabeça: - Eu a amava – disse baixinho. – Eu a amava tanto que permiti que fosse embora.”
(pg. 71)

Piedade nos mostra que nem sempre devemos fazer julgamentos precipitados. Analisar cada situação é tão importante quanto se colocar no lugar do outro. E, muitas vezes, uma decisão que tomamos, nos leva a caminhos tortuosos, mudando nossa vida de forma drástica, e causando danos irreparáveis.

A Filha da Minha Melhor Amiga

No dia do seu aniversário, Kamryn recebe uma notícia inesperada: sua amiga Adele está morrendo. As duas não se viam há 2 anos, por conta de uma traição. No passado, Adele teve um caso com Nate, que na época era noivo de Kam, e ficou grávida de Tegan.

Mas a partir do reencontro das duas amigas no hospital, tudo começa a tomar um novo rumo.

Adele quer que a amiga adote sua filha, que está vivendo temporariamente com o avô, depois da sua morte. Logo Kamryn que jamais desejou ter filhos! Quando Kam vai atrás da menina, que por acaso é sua afilhada, e se dá conta dos maus tratos que ela vem sofrendo, sem pensar duas vezes a leva embora.

Com a morte de Del, Kamryn inicia o processo de adoção. Além de sofrer pela perda da amiga, ela também carrega a culpa de não ter dado à Adele a chance de se explicar antes de morrer, e de perdoá-la pelos erros do passado.


“Se eu tivesse sabido, poderia ter-lhe dito adeus apropriadamente. Poderia tê-la beijado e abraçado. Poderia ter-lhe dito quanto a amava. Eu não havia dito aquilo, havia? Nem uma vez sequer, ao longo dos nove dias anteriores eu disse que a amava. E não disse que a perdoava. Eu a perdoei? Não sei. Não quis falar sobre o passado, eu sei, mas eu a perdoei? Mesmo que não tenha perdoado, deveria ter dito que sim? Não deveria tê-la deixado em paz em relação àquilo também?” (pg. 79)


Além disso, ela precisa procurar Nate, o pai da garota e seu ex-noivo, para que ele abra mão dos direitos legais de paternidade e assim ela possa adotar Tegan.

As dificuldades que Kam enfrenta num processo de adoção interracial, somadas às mudanças em sua rotina e tentativas de readaptar sua vida à chegada dessa criança que agora a tem como sua nova mãe, levam o leitor a pensar em três coisas fundamentais que são tratadas no livro: amor, perdão e amizade.

Com a ajuda de Luke, Kamryn e Tegan vão se conhecendo, criando laços, e construindo uma linda família que surge não pelos laços de sangue, mas por amor.

4 vidas de um cachorro

Sei que sou suspeita quando se trata de assuntos relacionados a animais, já que sou uma verdadeira apaixonada por essas adoráveis criaturas. Mas, definitivamente, 4 Vidas de um cachorro, de W. Bruce Cameron, me encantou do início ao fim.

A história é contada por um cãozinho que, de uma forma doce e quase ingênua, relata a trajetória de suas 4 vidas. Em cada uma delas, ele nasce de um jeito, e cada vez ele se questiona sobre o seu propósito nesse mundo.

Primeiro ele é um cão de rua nascido de uma ninhada de 4 filhotes. Aos 3 meses é levado para um abrigo de cães, passa a se chamar Toby, e desde cedo aprende que a vida não é feita só de brincadeiras.

"... tudo que eu queria na vida era uma chance de me aninhar a mamãe, e sentir sua língua e seu corpo quentinho era mais importante que qualquer outra coisa para mim. Agora, porém, ao vê-la sumir, entendi que ao me deixar para trás mamãe estava simplesmente agindo como todas as cadelas mães devem fazer um dia. "  (Pág. 25)

Na segunda vida, ele é Bailey, um Golden Retreiver e o cão de estimação de um garoto chamado Ethan. Vive numa casa grande e se diverte pra valer! Cão e garoto crescem juntos e dão uma verdadeira lição de amizade e companheirismo.

"Ele me deu um abraço comprido e amoroso. Entrefechei os olhos - não havia no mundo nenhuma sensação melhor do que ser abraçado pelo meu menino. "  (Pág. 144)

Depois, ele nasce como uma fêmea de Pastor Alemão, e recebe o nome de Ellie. É uma cadela de resgate da polícia. Ellie acha que finalmente encontrou o seu propósito, já que seu trabalho é encontrar e salvar pessoas. Quando já está velha e sente que é hora de partir, ela pensa em todas as boas ações que praticou e acredita que esta tenha sido sua última vida.

"... deitado sobre um retalho de sol, percebi que havia passado a minha vida sendo um cachorro bonzinho. (...) Tinha que ser por isso que, quando deixei Ethan, renasci como Ellie - tudo que eu havia feito, tudo que eu havia aprendido, tinha como destino me transformar num cachorro bonzinho. (...) Agora, cumprido o meu propósito, eu tinha certeza de estar no fim, de que não haveria mais renascimento, e isso me deixava em paz. "  (Pág. 223)

Mas ainda havia mais a ser feito...

Em sua 4ª vida, é um labrador preto que após uma longa jornada e depois de acumular experiências e aprendizados das suas vidas anteriores, finalmente descobre o seu propósito.

É uma história leve, com pitadas de humor e muita doçura, que me fez rir e também me emocionou.

Em suas 4 vidas, esse simpático e inocente cãozinho nos diverte com sua graça e ingenuidade, nos dá grandes lições e consegue mostrar que, independente de descobrir ou não o seu propósito em cada vida, não há dúvidas de que o propósito dos cães é ensinar ao ser humano sobre pureza e amor incondicional.

O Clube do Biscoito

O livro "O Clube do Biscoito" me encantou logo nas primeiras páginas.
Um grupo de 12 mulheres se reúne todos os anos, na mesma data (1ª segunda-feira do mês de dezembro), cada uma levando 13 dúzias de biscoitos caseiros: 1 dúzia para cada integrante do Clube, e a 13ª dúzia para a caridade.
Mas, por trás destes encontros recheados de delícias, existem também os dramas, os problemas, as preocupações, enfrentados por cada uma dessas mulheres.
Marnie, a biscoiteira-líder, é quem recebe as amigas em casa. Sua filha mais velha enfrenta sérios problemas na gravidez. Assim como ela, as outras integrantes também possuem seus próprios dramas: uma luta para superar a morte do filho, algumas venceram o câncer, uma acaba de adotar uma criança e não sabe bem como lidar com isso, outra enfrenta problemas financeiros...
O livro trata de assuntos importantes como amor, perdas, superação, família, amizade... A amizade de 12 mulheres que vivem os problemas umas das outras.
"Taí uma coisa que eu questiono: quando vejo uma amiga se direcionando para uma estrada difícil, até que ponto devo confrontar e até que ponto compreender, sabendo que estarei presente para apanhar os cacos? Até que ponto sou a amiga que ouve, carinhosa, e até que ponto devo apontar os perigos? Até que ponto aceito e até que ponto devo advertir? (...) As amigas sempre vão fazer aquilo que desejam fazer, apesar de tudo. E, apesar de tudo, eu estarei ao lado delas. Não tenho nenhum interesse em mudar isso."
Cada capítulo fala de uma dessas mulheres, e traz a receita do biscoito que cada uma preparou para o Clube. As receitas são, de alguma forma, relacionadas com fatos da vida de cada uma delas, o que torna o ato de fazê-los mais interessante. Os biscoitos que Juliet faz, por exemplo, lembram a sua infância, quando ela se sentava, junto com seu avô, para saborear os biscoitos molhados no café.
"- Nossos Natais não eram muito fartos. Roupas. Talvez um ou dois brinquedos. E os biscoitos. E a cerimônia de mergulhá-los no café era a única coisa que eu realmente compartilhava com meu avô. É absolutamente minha única lembrança dele. - Seus braços estão cruzados e sua voz é estável. - Toda vez que faço estes biscoitos, mergulho o primeiro deles no café e penso na cozinha da minha avó, com o piso de linóleo desgastado onde ela ficava, e o saleiro e o pimenteiro de gatinho, em cima da mesa na salinha de jantar. O cheiro do meu avô misturado ao do café e dos biscoitos. E, é claro, o sabor do biscoito. Não sei se é a lembrança ou se eles realmente são tão deliciosos assim. Vocês é que vão me dizer."
Além de ser uma história linda e emocionante, a forma como Ann Pearlman escreve, torna a leitura deliciosa e comovente! Reli várias partes, anotei muitos trechos, me emocionei, parei muitas vezes pra pensar...
Antes de terminar a leitura, eu já tinha decidido que também faria as minhas 13 dúzias de biscoitos. E fiz! Embalei todos eles, cuidadosamente, em saquinhos enfeitados, e dei a 12 pessoas que, por motivos diversos, mereciam recebê-los.
Confesso que escolher apenas 12 pessoas foi complicado. A vontade que eu tinha era de fazer centenas de biscoitos e distribuir para cada pessoa que eu considero importante!
Mas o melhor de tudo foi perceber com essa história quanta gente boa faz parte da minha vida!

Faça sua lista!

Vira e mexe recebo uns e-mails com listas de coisas que devemos fazer. O que fazer antes dos 30 anos, 10 medidas para melhorar sua saúde, 20 coisas que você deve fazer antes de se casar... e por aí vai. Aí outro dia uma delas me chamou a atenção: 100 coisas que você deve fazer antes de morrer.

Ok, detesto pensar na idéia de morte. Como pretendo demorar bastante para ir pro lado de lá, e quero aproveitar bastante a minha vida, decidi consultar a lista e ver se eu estava indo bem.

Meu primeiro pensamento foi: “O que eu estou fazendo da vida??? Não estou fazendo nada!!!”

Resolvi dar uma segunda lida, mais calmamente. Encontrei coisas absurdas para eliminar, como andar nas pegadas de um dinossauro. Coisas nojentas como pegar numa tarântula. No mais, eu até que não estava indo tão mal assim para as coisas que realmente me interessavam. Era ótimo ver algo bacana e pensar: “isso eu já fiz!”, ou ver algo estranho e chegar a conclusão: “isso eu não faria mesmo!”.

Até que percebi que lista nenhuma iria me dizer se eu estava ou não fazendo da minha vida a melhor possível. Eu teria que fazer minha própria lista! A gente não tem que fazer o que os outros querem, ou já fizeram ou pretendem fazer. Se ficarmos seguindo as listas alheias, esqueceremos a nossa, e assim, nossos verdadeiros desejos (não aqueles que nos são impostos) serão também esquecidos.

Faça a sua lista! Pode ser doida, simples, surreal, estranha, boba... pode não ter 100 itens (pode ter 10, ou 200)... mas é a SUA lista!! E não deixe as coisas no papel. Faça! Corra atrás! A vida é curta, passa rápido. Vamos deixar o comodismo de lado.

Quando fui pesquisar mais sobre essa lista na net, encontrei uma notícia antiga, de 2008: “Morreu aos 47 anos, em Los Angeles, o co-autor do livro "100 things to do before you die : travel events you just can't miss", Dave Freeman. Ele levou uma queda em sua casa e bateu a cabeça, confirmou seu pai, Roy.”

Simples assim.

Fiquei pensando: “será que ele teve tempo de fazer tudo da lista?”

Provavelmente não. Mas ao menos ele tentou.

E eu vou começar a minha agora! Sem esquecer, claro, de marcar as coisas que já realizei. Pois valorizar nossas conquistas é tão ou mais importante do que planejar o futuro!


Hoje é o dia da criança que existe em cada um de nós!!



"Não quero adultos nem chatos

Quero-os metade infância e outra metade velhice

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;

E velhos, para que nunca tenham pressa."

(Oscar Wilde)

A morte do porquinho

Há um bom tempo venho juntando moedas num porquinho de barro que ganhei de um amigo. No princípio colocava de tudo, depois resolvi me limitar a moedas de 1 real e 50 centavos. Nos primeiros meses tive a sensação de que o porquinho não ia encher nunca! Mas depois relaxei, e um belo dia, ao tentar colocar uma moedinha, vi que ela teve dificuldade para entrar. Dei umas sacudidas no porquinho e a moeda entrou. E foi então que percebi que seu fim estava próximo...
Hoje, dia 30/08/2010, o porquinho foi abatido com uma martelada certeira com um batedor de carne. Claro que não tive coragem de fazer isso! A responsável pelo abate foi Marlene, a moça que trabalha aqui em casa.
Depois de embrulhar os restos mortais do porquinho num jornal, me dediquei à parte cansativa (mas prazerosa) de contar as moedas. E me admirei quando vi a soma de R$ 817,15.
O que eu vou fazer com o dinheiro ainda não sei, mas sei que minha primeira compra vai ser um novo porquinho!

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